domingo, 18 de janeiro de 2009

Dor de cotovelo

Eu sou o resto, o que sobrou da festa suja onde todos beberam, fumaram e treparam, e ninguém amou. Não, eu não posso estar pensando nisso: mesmo me tratando como um lixo, ainda penso em seguir-te, em acoplar-me a ti. Se me tratas como acessório, é porque eu mesma me comporto como um.

Odeio-te e quero que sofras. Tenho os piores desejos para ti, quero tua infelicidade, quero que tudo dê errado na tua vida. Quero que passes fome e tenhas que aprender a pescar camarão para sobreviver, que arrumes um câncer de pele de tanto ficar embaixo do sol no meio do fim do mundo no Caribe. E que tenhas que pedir dinheiro emprestado para pagar uma passagem de avião e tratar teu câncer na civilização que tanto desprezas.

Quero morar na tua casa, comer tua comida, e trepar com um porteño maravilhoso na tua cama, enquanto tu desenvolves teu câncer em Punta Cana. Dormir tranqüila enquanto imagino tua vida miserável. Alguma doença tropical que não apresente sintomas, e que ninguém descubra o que é. Que fiques doente e definhes, e morras num corredor de hospital público. E que depois na autopsia descubram que tinhas apenas uma gripe, ou qualquer coisa banal do tipo.

Quero vomitar na tua boca, escarrar na tua cara, quero jogar água fervendo em teus ouvidos enquanto dormes tranqüilo. Não sei como podes dormir. Eu não durmo e não como, apenas fumo loucamente e tenho desejos psicóticos, planejo vinganças. E fico feliz quando imagino tudo isso que acabei de descrever. Se eu fosse uma Deusa você estaria fodido. Mas parece que os Deuses só gostam de fazer piadas grotescas comigo. Sinceramente não entendo a ironia divina.

“ Meu mundo caiu, eu que aprenda a levantar”. Eu quero aprender a me esconder entre os escombros, e sobreviver feito barata, que é o que eu sou. O ser mais asqueroso do Universo. Nunca mais quero construir mundos, nem sonhos. Quando tudo despenca e rui, tem que ter muito culhão pra agüentar. E eu não tenho culhão. Não suporto mais, não agüento mais, cansei, estou farta. Já movi meus mundos e me adaptei, já te segui, não te sigo mais.

Estou farta de ser a qüinquagésima terceira pessoa em quem você pára para pensar quando constrói teus mundos. Queria alguém que construísse junto comigo. Hoje não quero nem isso mais. Quero ficar em paz e que dois terços da população morram bizarra e morbidamente, que restem apenas as mulheres e os gays, que ninguém se reproduza e que a humanidade enfim acabe. E que eu possa descansar sem ter que reencarnar nesta merda de ser humano.

Hoje eu serei a mulher mais bela da rua da lama. Ninguém verá minha tristeza escondida nos olhos cobertos de sombras, lápis negro e rímel. Vou arrumar umas cinco úlceras e três enfisemas pulmonares, se é que isso é possível. Em se tratando de Dolores, qualquer dor é possível. Hoje eu vou sair e encher a cara em algum boteco sujo de esquina, de encruzilhada de preferência, para que desçam todas as pombagiras. Vou te rogar ainda mais pragas que as que escrevo agora, e de repente jogo uma flor para que Dona Estrada feche teus caminhos. Vou falar mal de você com outras mulheres, que concordarão comigo e também falarão mal de seus homens. E quando me desesperar completamente e quiser chorar, vou levantar os olhos para o céu e respirar fundo, e não deixarei que nenhuma gota escorra.

Tudo de bonito ficou feio de repente. Um abalo sísmico. Um tufão, um maremoto. Eu tenho que juntar os cacos que o vento espalhou pelos quatro cantos do mundo. Por mais que já tenha passado tantas e tantas vezes por terremotos e tufões, dói do mesmo jeito. E eu já não posso mais suportar a dor.

Por isso preciso odiar-te, para que qualquer coisa de mim sobreviva. Preciso petrificar-me e me amargurar, parar de acreditar, de construir. Preciso ser menos casa e mais terremoto. Preciso expulsar-te de mim e trancar as portas. E só posso fazer isso desejando-te todo o mal do mundo. Desaprendi a ser leve e boa. Sei apenas arrastar correntes.

E incrível: todo esse rancor é porque ainda te amo. E dói ainda mais porque me resta uma esperança filha da puta, última a morrer e primeira a matar. Não preciso nem cometer suicídio: já estou morta. Morri de dor de amor mal amado.

3 comentários:

Dana Wolfembrant disse...

Eu não conseguiria ser tão sincera, nem tão conivente ahahaahahahah
Que alívio ai! nas sua palavras, quantas verdades emburacadas em tragos nervosos de cigarro.Ai que vontade de mastigar esse texto, mas talvez meu alvo não mereça tanto, é um rato, uma farsa, porem igualmente covarde.
ahahahahahahahahahahahahah quanta felicidade nessas letras!
Juro que nem 30 rivotris me fariam o sono mais apaziguador!
Deu vontade de repetir o texto do acre ou milho aqui....só por serem um colúio!
Não sei se durmo ou continuo sorrindo!

Dana Wolfembrant disse...

Cala no bar! ehehehehehehe

Dolores Dantas disse...

Que bom que essa reunião de blasfemias bregas e psicopatas serviu pra aliviar qualquer coisa em alguém! hahahahaaa