quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Rezo vida

Tem, coisas que só faço sóbria
Tem coisas que só faço sôfrega
Sofrer eu faço quando sóbria
Escrever , só faço quando sôfrega
Resolvi intervir
Sofrer, beber e escrever
Como boleros sem nunca ter havido Ravel
Como Maysa, sem nunca ter havido bolero.
Nem Matarazzos.
Resolvi dormi sem penitências
Bêbada e só! Resolvi!
Resolvi não ter mormente.
Nem momento nenhum de espiritualidade
Resolvi deixar as calcinhas no chão e lacrimejar.
Não dizer nada do peito a ninguém
Não aproveitar-me do cerne desejo ébrio de falar
Que sempre foi o meu melhor
Sempre foi o meu pior
Resolvi não esperar, não concertar.
Resolvi e pronto, Ponho-me a chorar.
Resolvi parar de beber mais cedo
Acabar a carnaval mais cedo
Tirar a fantasia mais cedo...
Resolvi morrer
E não te esperar
Nada de velório, nada de enterro.
Resolvi abdicar de seu perdoe-me
E se perdi o chão, porque resolvi.!
Quem é de pedra ajude-me a levantar
Resolvi não temer não ter flores
E decidi esse dia beber
Não escrever, nem falar.
Decidi ficar sem as coisas leves,
Decidi não respeitar seja lá o quer meu peito leve.
Decidi deixar meus amigos serem quem sejam
Não escolher, nem escutar minha mãe
Decidi, resolvi,
Beber, escrever, ficar muda.
Sozinha dormi
Fuder, rezar, ser vagabundear.
Sozinha escrever
Sozinha fuder
Ficar muda
Sozinha falar
Ficar surda
E só lamentar
Rasgar, grasnar
Dar me de louca
Ser solta, ser solta, toda .
Toda fantasia, alegria alegria.
Deixar de ser esquisita.
Dia-a-dia meio colombina
Melindrar.
Ser a coisa toda, ter a coisa toda...
Chamar o caminhão, me mudar.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Feliz Aniversário (reediçao de" Obrigado por ter me abandonado")

Tentei de tudo pra que não fosse proisaco
mas talvez me fascine teu modo sintetico de ser bárbaro.
Teu medo me excita os poros...
E fato de ser tão perdido,tão falsamente seguro,
Há isso me fascina!
Me és tão cru. tão obvio...que um dia temo me ser apenas suscinto.
Obrigada por me deixar sempre,
me alimentar de seu medo
me dá a insegurança de sua certeza
e a sua certeza insegura!
Obrigada por me fazer vacilar ,
me fazer escrever em nome de meus pentelhos
de fazer duvidar toda a minha inspiração,
confirmar minhas paixões definitivas,
e dentre delas saber que não é você.
Obrigada por se encaixar perfeitamente no meu corpo.compartilhar das ideias relevantes, e me inspirar indignação...
Tens tanta dúvida aos 34...
Que aos 26,sinto plena a redenção!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Apocalypso

Notícias bombásticas. Não sei como ainda consigo me surpreender vivendo neste mundo bizarro. Depois de ouvir que:

a) uma mulher perdeu as mãos e os pés por causa de uma infecção urinária (???) – fiquei apavoradíssima, até agora não consigo acreditar que foi apenas por causa da infecção urinária – tem alguma outra bactéria escondida embaixo do tapete, não é possível! Eu já tive umas 275 infecções urinárias e uma pielonefrite – até hoje tenho minhas mãos e meus pés aqui comigo, juntinho, bonitinho, e nenhum médico, nunca, jamais, me comunicou tal possibilidade. Disseram-me apenas que poderia perder um rim, mas se trocarem por um fígado, está valendo. Hipocondríaca que sou, já marquei uma consulta com meu urologista. Se houver a possibilidade de trocar um dedo por um fígado...

b)um poodle matou três argentinos em Buenos Aires - só na Argentina um poodle consegue matar três pessoas, pior, acidentalmente. É por isso que digo que eles são trágicos como um tango de Gardel. Veja bem a situação: um cão pensa que é super homem, todo bobinho, resolve voar pela janela. Cai em cima da cabeça de uma senhora de 75 anos, que morre na hora. Aí já viu né, o povo adora uma desgraça, juntou de gente. Uma curiosa descompensada atravessou a rua sem olhar, passou um ônibus e pimba! Matou a miserável. Um outro cidadão horrorizado que assistia toda aquela cena grotesca, sofre uma ataque cardíaco e abotoa o paletó. E a culpa é da porra do cachorro que achava que era super homem, coitado, descobriu da pior maneira: morreu também.

c) um doido arrombou um sex shop e “estuprou” três bonecas infláveis - isso foi na Austrália, mas tudo bem, lá falta mulher mesmo. O cara é matchotcho, gente, para, imagina, ele teria que arrombar o cu de algum gay, não rola, preferiu arrombar uma boneca inflável mesmo. Mais interessante foi que o ser passou lubrificante, não sei se no pau, na chimbinha da boneca, ou nos dois, mas enfim, o fez, e depois largou-as jogadas num beco perto da loja, como todo estuprador que se preze.

Agora recebo a notícia escalafobética d) que a “banda” (Apo)calypso é indicada ao Prêmio Nobel da Paz. (!!??!!) – Fala sério. Mas mais escalafobético ainda foi descobrir que o nome “artístico” do marido da Joelma é Chimbinha!! Chimbinha, cara, pelo amor de Deus, para o mundo que eu quero descer!! Joelma parece nome de cobra e Chimbinha, por favor, não preciso nem dizer, inverteram a ordem toda do negócio. Joelma e Chimbinha, pimba na gorduchinha! Ri durante umas três horas.

Não entendi nada, básico eu não entender. Primeira pergunta que vem a mente de qualquer cidadão que tenha pelo menos Tico e Teco funcionando, mesmo que mal e porcamente, é: que diabos, perdão, anjos eles fizeram para receber tal honraria?

Única resposta que me parece razoável: são bregas, eram pobres e ficaram ricos, o povo adora um pessoal que sai da merda, faz merda e ganha dinheiro com merda, porque acha que também vai poder ficar rico com sua própria mediocridade. Mas parece que o Comitê da Paz pensa diferente de mim.Teoricamente, a indicação se deve ao “relevante trabalho humanitário em prol dos carentes da região Norte”.

Bom, fui pesquisar para ver se a notícia era verdadeira, e não encontrei nada - nem no site oficial da bunda, oops, banda, nem no site oficial do Prêmio Nobel da Paz - que corroborasse tal absurdo. Bom, descobri que a banda está de férias, presumo que o comitê da paz também esteja.
Também procurei quê trabalho humanitário o (Apo)calypso fez, e tampouco encontrei coisa alguma. Mas houve um cidadão mais paciente, esforçado e com menos coisa pra fazer que eu (olha que não faço porra nenhuma) que encontrou. No site em que escreve ele diz que “Joelma já doou roupas usadas em show para leilão beneficente e que o casal bancou a reconstrução do bairro San Martin, em Recife. O local foi atingido pela queda de um avião da banda, em 23 de novembro do ano passado. Além dos recursos, eles exigiram que fosse aproveitada a mão-de-obra de operários da própria comunidade. A banda fez ainda show em Porto Alegre, em dezembro, com a receita dedicada aos desabrigados de Santa Catarina. O curioso é que o motivo da indicação ao Nobel falava do povo da região Norte...”

Porra, cara, por favor. Vou começar nem falando de Santa Catarina. Quem foi que viu no jornal os voluntários solidaríssimos, inclusive os próprios caras do exército, carregando tudo de bom que tinha de doação pra levar pro irmão, pro primo, pro periquito, pro papagaio, hein, hein? Eu vi. Ok, eu concordo, Joelma e Chimbinha não tem participação nisso. Mas eles fizeram um show para ajudar os desabrigados, e acabaram deixando milhões de ouvidos desabrigados de tímpanos.

A desgraça do avião.Tipo, os caras caem com o avião em cima de um bairro, destroem a porra toda, desgraçam a vida de várias pessoas, e nego quer meter que é caridade, solidariedade, altruísmo, ó meu deus, como são bonzinhos, as pessoas terem a dignidade e o caráter de reconstruir tudo e empregar a mão de obra local? Quer coisa mais óbvia e lógica que isso? É o mínimo que deveriam fazer, e não vou bater palmas para o óbvio. Dignidade e caráter há tanto tempo não andam por essas bandas que as pessoas se emocionam quando vêem alguém agindo como deve ser. Solidariedade, caridade, altruísmo seria se eles tivessem morrido no acidente, para isso sim, eu bateria palmas, de pé.

O monte de “ai zezuzu, me chicotia” que chamam roupas. Desde quando as roupas daquele estrupício podem ser consideradas beneficência??? Isso é maleficência, isso sim, a não ser que a anta altruísta que comprou esta ode a breguice tenha imediatamente tacado fogo em tudo, e não permitiu que nenhum olho humano se contamine com todos os brilhos da falta de bom gosto. Está bem, eu sei, o dinheiro foi revertido para alguma campanha da solidariedade estúpida. Mas eu fiquei imaginando uma pobre, fodida, catando caranguejo no mangue todo poluído, cheio de sacos plásticos e garrafas pet, usando esta roupitcha aqui ó:


Puta que me pariu de verde e amarelo! Valha-me Deus! É o Apocalypso!!! Só rezando para Nossa Senhora da Vassoura Piaçava varrer pro quinto dos infernos essa desgraceira toda. Só o capeta dá um jeito nisso... Os santos e demônios precisam ter uma reunião urgente para reequilibrar a ordem natural do planeta. A morte tirou férias do bom senso.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Enfim

Deixa ir. Ainda não sei o que aprendi. Mas ficou um espaço aconchegante onde dorme uma planta chamada saudade e uma louva-deusas chamada esperança.

Aboli a escravidão narcisista – não quero morrer afogada. Quero respirar embaixo d’água. Ser-me submersa. Construir túneis na beira da praia e esperar pelas ondas, em vez de construir castelos e lutar com elas.

Não tenho mais grades. Deixei cair cada argola de minhas correntes. Sou-me inteira, com todos meus farrapos. E posso sorrir porque amo apenas, amo na dor e no penar.

Pendurei minhas ferraduras atrás da porta, para dar sorte. Não ando mais na sela. O molusco saiu de dentro da concha e eu fiz um arranjo para meus cabelos.

Não grito mais. Tenho uma paz estranha. Pude compreender o que fui, mas já não sou mais aquela que pode compreender. Este é um segredo raro.

Tudo o que encontrei foi um estômago, e era exatamente de um estômago que eu precisava. Toda semente me nasce no estômago, depois os ramos crescem pela minha garganta, muitas vezes quase me sufocam. Então preciso ser reles e vil, e usar uma tesoura. Corto o pescoço, mas nunca queimo a terra. É preciso ter estômago.

Abri as janelas para olhar a tempestade. Marquises voaram, telhados desabaram, os raios partiram árvores e um portão despencou. No céu havia um violeta avermelhado que me sorria visceralmente. Faltou luz e eu era eletricidade pura: acendi uma lâmpada no porão, e os fantasmas fugiram assustados.

Não te fiz um enterro, nem te acendi uma vela. Fiz-te um barco de papel e joguei-te flores no mar. Não mandei construir-te uma capela. Dei-te o barulho das águas e o aroma do desterro. Fiz-te brisa para teu céu desanuviar. É mais bonito deixar ir que enterrar.