Meu ser sozinho no mundo encontrou um obstáculo que não é de matéria pedra, mas sim de flor. Caminhava eu em uma espécie de auto-adoração e descoberta do maravilhoso mundo fantástico que há em mim, depois de infinitos anos moleculares submersa nas profundezas da angústia e do tormento, e, quando enfim emergi, enrosquei-me em serpentinas, paetês e purpurinas, e cai perdidamente apaixonada por um arlequim.
Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim e funcionou. Carmen é realmente um ser fantástico, até meu cocar te fiz colocar. E foste o mais lindo de todo o carnaval, tu, quando te vi embrenhado em flores, foste meu amor à primeira vista, estrela Dalva no céu despontou e iluminou, minha lua ficou tonta com tamanho esplendor. Te disse: me espera? E tu me esperaste sorrindo, meu pastor que sabe da ovelha negra desgarrada. Não usei máscara negra porque tu me foste sempre claro, e na visão dos meus sonhos tiveste a ressurreição no carnaval, e me fizeste colombina sonhar. E te mostrei que tua sina, arlequim, era adorar a colombina dos carnavais que não voltam mais.
Abri alas e passei com meu bloco pelo teu, fizemos um só cordão colorido, demos as mãos e bailamos pela Lapa, pelas ladeiras de nossa Santa Tereza, pelo Aterro do Flamengo e chegamos até o Leblon. Somos filhos da Chiquita Bacana, abençoados por um deus pagão, temos sorte, muita sorte; somos safados, sacanas, e combinamos perfeitamente no samba, no suor e na cerveja, nessa ilusão esplêndida que se chama Carnaval.
Os encantos mil da Cidade Maravilhosa envolveram-te e nos inebriaram. Apreciaste nosso canto, nosso berço, nosso riso; descobriste a matéria alegre de que estamos feito. Tens o espírito e esse espírito azul anil te salta, e foi bailando no ar que nossas almas se encontraram.
Mais de mil palhaços no salão e tu me reluzistes, arlequim. Espero ver-te outra vez em menos de um ano, sem máscara negra escondendo teu rosto, só pra matar a saudade, essa que mata a gente. Sem que chores pelo amor da colombina porque meu amor será teu, não posso dizer pra sempre, mas por enquanto, o que já é muita coisa tendo em vista que meus segundos duram milhões de anos-luz. E te beijarei com muitos risos e alegria porque para nós será sempre Carnaval.
Flutuamos ao som de todas as marchinhas, eu te traduzia todas as letras e tu aprendias as nossas por si, “eu mato quem roubou minha cueca pra fazer pano de prato”, me cantavas, e te encantava saber e sentir tudo sobre meu Brasil, meu país, meu tato, meu ser, nosso Carnaval. Há um dito aqui que não te contei: paixão de Carnaval não dura até o Natal, mas eu nem sei se me importo que dure, porque já vivi uma eternidade em tua paixão serpentina. “A vida dura só um dia, Luzia, e não se leva nada desse mundo”. E tu bem sabes que desse mundo leva-se apenas essa eternidade que há em nós.
Nossos confetes eram como pétalas de amor bailando pelo ar, eu te ensinei o ser irreverente carioquês, mesmo que não fosse, porque sempre te disse que era da terra de Araribóia, Nikity City, niteroiense papa-goiaba. Mas sei desse espírito Rio, rio-me de amores, e estamos sempre rindo porque nossa beleza sobrepassa qualquer nuvem e qualquer mal-poente, somos sempre brisa, e mar, confete, rio, serpentina, alegria.
Sassaricaste comigo em todas as cordas bambas e aprendeste que sem sassaricar essa vida é mesmo um nó. Nosso bloco não foi do eu sozinho, mas do eu juntinho, meu ser sozinho no mundo despediu-se por um momento e colou-te a ti, meu precioso, meu maravilhoso outro ser sozinho no mundo. E aprendeste assim, com o Carnaval, a amar-me e a a-mar-me no mais bonito de mim, na minha catarse, na minha epifania, na minha santidade e religião carnavalística de confete e purpurina.
Aprendeste que minha galera dos verdes mares não teme o tufão, porque somos verdes, e amarelos e azuis e brancos, porque temos ressacas de ondas, de mares e cervejas, porque somos da terra das palmeiras onde canta o sabiá, porque somos desse brasileirismo que tanto te encanta. E te vi no mais pleno de teu ser, e fui eu também mais plena, porque quando há confetes todo mundo se torna mais colorido, mais feliz, mais alegre, mais brasileiro, mais completo.
Passamos a mão no saca-rolha e não deixamos nenhuma garrafa cheia, afogamo-nos nas águas de nossos amores, de nossas dores, e misturamos nossa cachaça com tua tequila, bebemos até a última gota de nosso ser; e não nos faltou nem manteiga, nem arroz, nem feijão, nem pão, e nem tampouco amor nos faltou, porque quisemos amor.
Com a turma do funil aprendeste a não dormir no ponto e a não ficar tonto, eu fiquei tonta tantas vezes e dormi, e tu me cuidaste em teus ombros bonitos, esse desenho incrível que só pode ser de deus. Sem compromisso me quiseste, e é assim que eu te quero, sem compromisso e livre, como nós em um dia momesco pudemos ser.
Levanto a bandeira branca porque não suporto mais ter essa saudade que me invade, eu imploro paz. Paz e teus beijos, teus carinhos, amor e paz para que o bloco do eu sozinho forme de novo um imenso cordão.
Quero contigo levar a vida a cantar, de noite embalar teus sonhos e de manhã ir te acordar. Quero contigo cantar pelos espaços afora, ir semeando cantigas e dando alegria a quem chora. Quero cantar para te ver mais contente, pois a penúria dos outros é a alegria da gente. Canto e sou feliz assim, agora peço que cantes um pouquinho para mim.
E ainda há quem diga que eu não sei de nada, que eu não sou de nada e não peço desculpas. Mas sei que tu pões fé em mim, e tua fé vale mais que todas porque és guerreiro. Sei que não necessito pedir-te desculpas, porque a única culpa que tenho é a de ter me apaixonado doidamente por ti, e dessa loucura sei que não queres a cura, só o calor. Mas o que eu quero, eu quero mesmo é botar meu bloco na rua junto com o teu, gingar-te e botar-te pra gemer. E que gemas até que me transformes em ovo, que me faça perder a boca, porque eu não tenho medo quando o pau quebrar. Eu por mim queria isso e aquilo. E é disso que eu preciso e não é nada disso, eu quero é todo mundo nesse Carnaval. Eu quero é botar meu bloco na rua, botar pra gingar junto com o teu.
Agora me restas tu, meu confete, “pedacinho colorido de saudade, ai, ai, ai, ai, ao te ver na fantasia que usei, confete, confesso que chorei. Chorei porque lembrei o carnaval que passou, aquele “arlequim” que comigo brincou, ai, ai, confete, saudade, amor que se acabou.” E eu não quero que se acabe, e estou eu entre a razão e a esperança do amor, no meio do retorno de Saturno com a plena consciência de que a felicidade é realmente clandestina.
“Angústia, solidão, um triste adeus em cada mão, lá vai meu bloco, vai, só desse jeito é que ele sai. À frente sigo eu, levo o estandarte de um amor que se perdeu num Carnaval. Por isso quando eu passar batam palmas pra mim, aplaudam quem sorriu trazendo lágrimas no olhar, merece uma homenagem quem tem forças pra cantar.”
Mas a gente tem que ver como é bonita a vida, ver a esperança ainda, o novo céu se abrindo e o sol iluminado por onde nós vamos indo. E que nos ilumine o sol de tua terra Maia de milhos que tanto amo, que nos ilumine meu céu de braços abertos, que nos ilumine tudo de extraordinário que há no mundo.
E quem sabe, sabe, conhece bem como é gostoso gostar de alguém. E me deixaste gostar de ti porque sabias já que boêmio também tem querer. Bailaste com minha cigana e quase que te trouxe um malandro para me acompanhar, porque teu ser já é malandro, malandro de nome santo Jorge.
Ogum também te chamam, e depois que já fingiam aqui que não era mais Carnaval, fomos ao samba e cantamos teu ponto, Santo Jorge, não porque és beatificado mas porque estás tão próximo dos céus. E sabes voar e me levar até as extremas alturas.
Dói-me uma dor estranha que não é dor, é dor que só a língua portuguesa entende: é saudade. Saudade mata a gente, saudade só o português sente. E eu, tão brasileira, tão Rio de Janeiro que te sorri, saudade eu sei que só eu posso sentir. Tu me extrañas, eu tenho saudades de ti. E por isso, em vez de confetes, agora espalho algumas lágrimas de purpurina, porque ainda guardo no canto dos olhos aquele pequenino grão de areia prateada que roubei de ti.
Quase ateei fogo ao computador, e isso geralmente acontece ou quando eu estou bêbada- o que não é o caso, eu juro – ou quando eu estou em puro êxtase, trêmula, e não consigo agarrar mais nada. É este o caso. Tinha necessidade enorme de embriagar-me e escrever-te. Escrevo e tento embriagar-me, na realidade tento as duas coisas porque tudo me é bastante difícil agora. Se eu te contasse que entre todas essas coisas ainda converso com minha mãe, escuto e explico marchinhas e presto atenção em dois anjos tortos que brincam de luta na sala, tu não me crerias.
E se a canoa não virar eu chego lá onde tu estás, mi corazón.
Hoje penso no exato dia que tem o mesmo nome, o dia da semana passada, e penso que ainda estava enroscada em teus braços, enlouquecida em teus beijos; que te podia admirar o corpo nu, perfeito, meu deus Greco - mexicano; que queria desenhar-te em puro carvão, sua luz, suas sombras, seus contornos, para guardar-te para sempre na memória. Penso como as horas são injustas, horas inglórias que vivo aqui, agora, a beber e escrever e tentar viver-te de novo.
Estou completamente arruinada, eu, logo eu, que já havia começado o treinamento do meu ser sozinho no mundo, fui-me eu me apaixonar por ti, e a repetir tudo outra vez. Se já sei tudo o que vou sentir, se já vivi essa estranheza, por que tenho eu necessidade humana de querer-te? És para mim essa necessidade de escrever, és meu Carnaval, és-me humano e sobrenatural. És-me a total beleza do ser, meu espelho, meu narciso, meu pierrot; e eu sou-te toda confete, serpentina, purpurina, paetê e colombina. Descubro que a vida é infinitamente bela e que cada ínfimo segundo vale uma eternidade. Agradezco a ti, mi guapísimo, porque contigo descobri quase toda beleza que há em mim. Na pensão do meu coração sempre haverá um enorme quarto para que possas de vez em quando pousar aqui.
Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim e funcionou. Carmen é realmente um ser fantástico, até meu cocar te fiz colocar. E foste o mais lindo de todo o carnaval, tu, quando te vi embrenhado em flores, foste meu amor à primeira vista, estrela Dalva no céu despontou e iluminou, minha lua ficou tonta com tamanho esplendor. Te disse: me espera? E tu me esperaste sorrindo, meu pastor que sabe da ovelha negra desgarrada. Não usei máscara negra porque tu me foste sempre claro, e na visão dos meus sonhos tiveste a ressurreição no carnaval, e me fizeste colombina sonhar. E te mostrei que tua sina, arlequim, era adorar a colombina dos carnavais que não voltam mais.
Abri alas e passei com meu bloco pelo teu, fizemos um só cordão colorido, demos as mãos e bailamos pela Lapa, pelas ladeiras de nossa Santa Tereza, pelo Aterro do Flamengo e chegamos até o Leblon. Somos filhos da Chiquita Bacana, abençoados por um deus pagão, temos sorte, muita sorte; somos safados, sacanas, e combinamos perfeitamente no samba, no suor e na cerveja, nessa ilusão esplêndida que se chama Carnaval.
Os encantos mil da Cidade Maravilhosa envolveram-te e nos inebriaram. Apreciaste nosso canto, nosso berço, nosso riso; descobriste a matéria alegre de que estamos feito. Tens o espírito e esse espírito azul anil te salta, e foi bailando no ar que nossas almas se encontraram.
Mais de mil palhaços no salão e tu me reluzistes, arlequim. Espero ver-te outra vez em menos de um ano, sem máscara negra escondendo teu rosto, só pra matar a saudade, essa que mata a gente. Sem que chores pelo amor da colombina porque meu amor será teu, não posso dizer pra sempre, mas por enquanto, o que já é muita coisa tendo em vista que meus segundos duram milhões de anos-luz. E te beijarei com muitos risos e alegria porque para nós será sempre Carnaval.
Flutuamos ao som de todas as marchinhas, eu te traduzia todas as letras e tu aprendias as nossas por si, “eu mato quem roubou minha cueca pra fazer pano de prato”, me cantavas, e te encantava saber e sentir tudo sobre meu Brasil, meu país, meu tato, meu ser, nosso Carnaval. Há um dito aqui que não te contei: paixão de Carnaval não dura até o Natal, mas eu nem sei se me importo que dure, porque já vivi uma eternidade em tua paixão serpentina. “A vida dura só um dia, Luzia, e não se leva nada desse mundo”. E tu bem sabes que desse mundo leva-se apenas essa eternidade que há em nós.
Nossos confetes eram como pétalas de amor bailando pelo ar, eu te ensinei o ser irreverente carioquês, mesmo que não fosse, porque sempre te disse que era da terra de Araribóia, Nikity City, niteroiense papa-goiaba. Mas sei desse espírito Rio, rio-me de amores, e estamos sempre rindo porque nossa beleza sobrepassa qualquer nuvem e qualquer mal-poente, somos sempre brisa, e mar, confete, rio, serpentina, alegria.
Sassaricaste comigo em todas as cordas bambas e aprendeste que sem sassaricar essa vida é mesmo um nó. Nosso bloco não foi do eu sozinho, mas do eu juntinho, meu ser sozinho no mundo despediu-se por um momento e colou-te a ti, meu precioso, meu maravilhoso outro ser sozinho no mundo. E aprendeste assim, com o Carnaval, a amar-me e a a-mar-me no mais bonito de mim, na minha catarse, na minha epifania, na minha santidade e religião carnavalística de confete e purpurina.
Aprendeste que minha galera dos verdes mares não teme o tufão, porque somos verdes, e amarelos e azuis e brancos, porque temos ressacas de ondas, de mares e cervejas, porque somos da terra das palmeiras onde canta o sabiá, porque somos desse brasileirismo que tanto te encanta. E te vi no mais pleno de teu ser, e fui eu também mais plena, porque quando há confetes todo mundo se torna mais colorido, mais feliz, mais alegre, mais brasileiro, mais completo.
Passamos a mão no saca-rolha e não deixamos nenhuma garrafa cheia, afogamo-nos nas águas de nossos amores, de nossas dores, e misturamos nossa cachaça com tua tequila, bebemos até a última gota de nosso ser; e não nos faltou nem manteiga, nem arroz, nem feijão, nem pão, e nem tampouco amor nos faltou, porque quisemos amor.
Com a turma do funil aprendeste a não dormir no ponto e a não ficar tonto, eu fiquei tonta tantas vezes e dormi, e tu me cuidaste em teus ombros bonitos, esse desenho incrível que só pode ser de deus. Sem compromisso me quiseste, e é assim que eu te quero, sem compromisso e livre, como nós em um dia momesco pudemos ser.
Levanto a bandeira branca porque não suporto mais ter essa saudade que me invade, eu imploro paz. Paz e teus beijos, teus carinhos, amor e paz para que o bloco do eu sozinho forme de novo um imenso cordão.
Quero contigo levar a vida a cantar, de noite embalar teus sonhos e de manhã ir te acordar. Quero contigo cantar pelos espaços afora, ir semeando cantigas e dando alegria a quem chora. Quero cantar para te ver mais contente, pois a penúria dos outros é a alegria da gente. Canto e sou feliz assim, agora peço que cantes um pouquinho para mim.
E ainda há quem diga que eu não sei de nada, que eu não sou de nada e não peço desculpas. Mas sei que tu pões fé em mim, e tua fé vale mais que todas porque és guerreiro. Sei que não necessito pedir-te desculpas, porque a única culpa que tenho é a de ter me apaixonado doidamente por ti, e dessa loucura sei que não queres a cura, só o calor. Mas o que eu quero, eu quero mesmo é botar meu bloco na rua junto com o teu, gingar-te e botar-te pra gemer. E que gemas até que me transformes em ovo, que me faça perder a boca, porque eu não tenho medo quando o pau quebrar. Eu por mim queria isso e aquilo. E é disso que eu preciso e não é nada disso, eu quero é todo mundo nesse Carnaval. Eu quero é botar meu bloco na rua, botar pra gingar junto com o teu.
Agora me restas tu, meu confete, “pedacinho colorido de saudade, ai, ai, ai, ai, ao te ver na fantasia que usei, confete, confesso que chorei. Chorei porque lembrei o carnaval que passou, aquele “arlequim” que comigo brincou, ai, ai, confete, saudade, amor que se acabou.” E eu não quero que se acabe, e estou eu entre a razão e a esperança do amor, no meio do retorno de Saturno com a plena consciência de que a felicidade é realmente clandestina.
“Angústia, solidão, um triste adeus em cada mão, lá vai meu bloco, vai, só desse jeito é que ele sai. À frente sigo eu, levo o estandarte de um amor que se perdeu num Carnaval. Por isso quando eu passar batam palmas pra mim, aplaudam quem sorriu trazendo lágrimas no olhar, merece uma homenagem quem tem forças pra cantar.”
Mas a gente tem que ver como é bonita a vida, ver a esperança ainda, o novo céu se abrindo e o sol iluminado por onde nós vamos indo. E que nos ilumine o sol de tua terra Maia de milhos que tanto amo, que nos ilumine meu céu de braços abertos, que nos ilumine tudo de extraordinário que há no mundo.
E quem sabe, sabe, conhece bem como é gostoso gostar de alguém. E me deixaste gostar de ti porque sabias já que boêmio também tem querer. Bailaste com minha cigana e quase que te trouxe um malandro para me acompanhar, porque teu ser já é malandro, malandro de nome santo Jorge.
Ogum também te chamam, e depois que já fingiam aqui que não era mais Carnaval, fomos ao samba e cantamos teu ponto, Santo Jorge, não porque és beatificado mas porque estás tão próximo dos céus. E sabes voar e me levar até as extremas alturas.
Dói-me uma dor estranha que não é dor, é dor que só a língua portuguesa entende: é saudade. Saudade mata a gente, saudade só o português sente. E eu, tão brasileira, tão Rio de Janeiro que te sorri, saudade eu sei que só eu posso sentir. Tu me extrañas, eu tenho saudades de ti. E por isso, em vez de confetes, agora espalho algumas lágrimas de purpurina, porque ainda guardo no canto dos olhos aquele pequenino grão de areia prateada que roubei de ti.
Quase ateei fogo ao computador, e isso geralmente acontece ou quando eu estou bêbada- o que não é o caso, eu juro – ou quando eu estou em puro êxtase, trêmula, e não consigo agarrar mais nada. É este o caso. Tinha necessidade enorme de embriagar-me e escrever-te. Escrevo e tento embriagar-me, na realidade tento as duas coisas porque tudo me é bastante difícil agora. Se eu te contasse que entre todas essas coisas ainda converso com minha mãe, escuto e explico marchinhas e presto atenção em dois anjos tortos que brincam de luta na sala, tu não me crerias.
E se a canoa não virar eu chego lá onde tu estás, mi corazón.
Hoje penso no exato dia que tem o mesmo nome, o dia da semana passada, e penso que ainda estava enroscada em teus braços, enlouquecida em teus beijos; que te podia admirar o corpo nu, perfeito, meu deus Greco - mexicano; que queria desenhar-te em puro carvão, sua luz, suas sombras, seus contornos, para guardar-te para sempre na memória. Penso como as horas são injustas, horas inglórias que vivo aqui, agora, a beber e escrever e tentar viver-te de novo.
Estou completamente arruinada, eu, logo eu, que já havia começado o treinamento do meu ser sozinho no mundo, fui-me eu me apaixonar por ti, e a repetir tudo outra vez. Se já sei tudo o que vou sentir, se já vivi essa estranheza, por que tenho eu necessidade humana de querer-te? És para mim essa necessidade de escrever, és meu Carnaval, és-me humano e sobrenatural. És-me a total beleza do ser, meu espelho, meu narciso, meu pierrot; e eu sou-te toda confete, serpentina, purpurina, paetê e colombina. Descubro que a vida é infinitamente bela e que cada ínfimo segundo vale uma eternidade. Agradezco a ti, mi guapísimo, porque contigo descobri quase toda beleza que há em mim. Na pensão do meu coração sempre haverá um enorme quarto para que possas de vez em quando pousar aqui.