Que sorte pôs-se ante a Inês
Tolhida do verbo “amai-vos uns aos outros”.
Inês de todos os ventres vazios de amor
Dos ventres preenchidos de carne,
Dos ventres preenchidos de luz e de dor.
Inês que aceitou a alcova de tua mortalha,
E em tua cama simples, amou Pedro.
Sabendo de Pedro, amando : a corte, a coroa e a Constância
E sabendo que de tua alma esquecia-se Deus.
Que sorte diante de Inês
Partiu em quatro, Pedro e todas as suas paixões
Amanheceu no azular de cada desistência da noite.
Só, cercada de santas almas e tristes sonetos.
Com entorce vil e aguda em teu peito
E a serenidade de quem conhece o sono.
Desesperar-se lembrando da relva
que se encolhe na presença
Do desejo de puta de entregar-se a Pedro
Inês a “castrada” de ser dama livre e respeitada.
Concubina coroada e condenada a vestes pobres.
Sem bordados cor da aurora, sem aveludado tecido, sem saia de anteparo.
Que sorte a de Inês, o calor não se fazia tão quente
quanto o fogo que a consumiu.
Inês?
O interesse de todos era pela fúria que tua ausência causaria a Pedro.
O medo ?
Era pelo que tua presença faria no caminho do Rei
A fuga?
Foi para esconder-te nos muros que encobrem os covardes
A guerra?
Pela crueldade que anuncia o destino.
Era pelo poder; sobre ele soberano.
Tu era o templo do Rei, e era também a tua basílica quando a vida lhe depusesse
coroado em cova ornada.
Inês que sorte a Tua.!
Pedro soube te manter rainha e intacta tuas formas
Construiu quando expulso por vorazes algozes
0a morada que os avizinha.
Caçou os rendetores de tua dor, dentro e fora de ti e de si.
Porque tu resististes, a ti mesmo, fenecendo forte e indomável.
Aconselhe-me Inês, te escuto porque vencestes.
Entendi Inês, pode-te calar.
Tu é morta!