terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Inês é morta!


Que sorte pôs-se ante a Inês

Tolhida do verbo “amai-vos uns aos outros”.

Inês de todos os ventres vazios de amor

Dos ventres preenchidos de carne,

Dos ventres preenchidos de luz e de dor.

Inês que aceitou a alcova de tua mortalha,

E em tua cama simples, amou Pedro.

Sabendo de Pedro, amando : a corte, a coroa e a Constância

E sabendo que de tua alma esquecia-se Deus.

Que sorte diante de Inês

Partiu em quatro, Pedro e todas as suas paixões

Amanheceu no azular de cada desistência da noite.

Só, cercada de santas almas e tristes sonetos.

Com entorce vil e aguda em teu peito

E a serenidade de quem conhece o sono.

Desesperar-se lembrando da relva

que se encolhe na presença

Do desejo de puta de entregar-se a Pedro

Inês a “castrada” de ser dama livre e respeitada.

Concubina coroada e condenada a vestes pobres.

Sem bordados cor da aurora, sem aveludado tecido, sem saia de anteparo.

Que sorte a de Inês, o calor não se fazia tão quente

quanto o fogo que a consumiu.

Inês?

O interesse de todos era pela fúria que tua ausência causaria a Pedro.

O medo ?

Era pelo que tua presença faria no caminho do Rei

A fuga?

Foi para esconder-te nos muros que encobrem os covardes

A guerra?

Pela crueldade que anuncia o destino.

Era pelo poder; sobre ele soberano.

Tu era o templo do Rei, e era também a tua basílica quando a vida lhe depusesse

coroado em cova ornada.

Inês que sorte a Tua.!

Pedro soube te manter rainha e intacta tuas formas

Construiu quando expulso por vorazes algozes

0a morada que os avizinha.

Caçou os rendetores de tua dor, dentro e fora de ti e de si.

Porque tu resististes, a ti mesmo, fenecendo forte e indomável.

Aconselhe-me Inês, te escuto porque vencestes.

Entendi Inês, pode-te calar.

Tu é morta!