quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Lista de casamento

As pessoas querem se casar, tudo bem. Apesar de ser contra isso, tudo bem, eu aceito. Aceito que não tenham vivido antes juntos pra ver a merda que é, aceito os sonhos. Não aceito é nego me fazer lista dos sonhos.
Parece que escrevem pra Papai Noel: eu me comportei direitinho, quero uma bicicleta. Não me importa um caralho que você tenha se comportado direitinho. Eu não tenho dinheiro e pronto, Zé fini. Vá escrever pra Santa. Agora não adresse a mim.
Aí começam as ilusões que nunca compram. Eu me casei, sem ter sabido claro, se tivessem me avisado antes óbvio que eu não cairia numa roubada dessas. Mas enfim, sempre vejo aquele tapete de peixinho e digo: vai ser caro assim no iferno, que te abençoe o capeta! Mas esse povo, que não é casado, que tampouco sabe o preço da carne e da verdura, do tomate então que varia todo dia, nada sabem, eles pensam que é assim: eu amei o tapete de peixinho, compra amorrrrr? E amorrrr compra. Quando amor for calcular que com o dinheiro do tapete de peixinhos ele compra comida pra semana inteira, não preciso nem dizer o que ocorrerá com o tapete de peixinhos...
Aí a noiva louca consumista diz: já sei! Vou endereçar meus sonhos de consumo aos meus amigos idiotas loucos para ser madrinhas ou padrinhos de casamento! Deve ter gente que pensa: ai, vou adorar tirar o mofo do meu vestido e beber todas! Deve ter gente que pensa: ai, vou adorar beber todas e pegar algumas solteiras desesperadas por um buquê, alugar um terno e pronto; deve ter gente que pensa: vai se fuder. Hoje, além de mim, eu encontrei duas pessoas que pensam vai se fuder. Alias, há coisa mais extraordinária para se desejar a um casal que se casa?
Mas o que eu quero dizer é: porque diabos colocam nome e etc do lugar que você tem que comprar o presente? E se eu não tiver dinheiro? Significa que só as pessoas com esse poder aquisitivo irão bebemorar essa tragédia? Ou então significa que eu, pobre, terei que parcelar em 255 vezes (com juros, claro) um prato de algum designer homossexual para poder comer meia dúzia de salgadinhos gordurosos, que provavelmente não chegam nem as pés das coxinhas que mamãe faz, na sua festa “olha, eu me casei e você não”?
Se eu me casar um dia, será boca livre. Mega festão. Pra qualquer um, e eu não vou escolher presente. O pior presente do mundo eu já terei recebido, um marido, e significará que eu sou muito evoluída para lidar com isso. Depois, se eu tiver passado as etapas, em casar (deus que me livre) enfim, já vou estar na merda mesmo. Não precisarei de presentes para me alegrar. Precisarei apenas de pratos bem baratinhos para que eu não tenha pena de jogá-los na cabeça do meu marido quando ele me irritar. (ah sim, porque ele vai me irritar)
Eu pensei nos meus amigos. E me senti a pessoa mais feliz do mundo. Porque os meus amigos não me constrangeriam assim não. Eles sabem das minhas capacidades. Às vezes posso, às vezes não. Eles não me exigiriam presentes. Diriam apenas: venha, e traga quem quiseres. O que puderes comprar está bem. Você é que não pode faltar. (Eu amo quando eles dizem isso...)
E eu lhes pintaria um vaso de flores, para que eles plantassem as sementes que mais lhe agradassem... e não haveria problemas. Eles ficariam felizes com qualquer coisa que eu lhes desse, simplesmente porque fui e lembrei. A comunhão é o melhor presente.
Para as outras pessoas mal educadas que fazem lista daquilo que a gente não pode comprar nem pra gente, demos apenas um pote de cotonetes numa embalagem bem bonita.