Um monge franciscano caminhava entre o mendigo, ele dormia, um cobertor embaixo do viaduto. Uma mulher carregava um pão na mão, como um tijolo. O ônibus parou de repente, como se não estivesse programado pelo sinal vermelho. O monge e o mendigo se misturaram de tal forma que não sabia mais quem era quem, e pensei quem seria o grande vilão a despertar o sono sagrado dos mortos. E a mulher com o pão tijolo pesava sobre tudo, branca, entre as vestes marrons e os cobertores que se engalfinhavam.
Eis que surge uma cabeça e o ônibus arranca. O sinal não é bem programado. Eu fiquei com a esperança da imaginação em minha cabeça, essa mesma que me acompanha há tantos anos. E pensei que seria bom um monge franciscano, porque ele de certa maneira tentaria semear algo de paz entre nós do viaduto. Algo de humano.
Fazei com que eu procure mais entre os meus encontrar algo de mim. Fazei com que sua dor se misture com a minha. Fazei com que caminhe entre os sujos e seja da mesma forma suja para assim compreender sua sujeira. Fazei com que eu ame como quem ama de um olhar de um sinal, de uma parada de ônibus, no mais que de repente. Fazei com que esse ser que olha entenda por que eu caminho descalço entre os ratos e baratas e lama das ruas, e que de mim não sinta nojo. Fazei com que na mente dessa pessoa exista uma total quebra de paradigma para entender o quanto eu sou bonito. Fazei com que o outro possa compreender a doação que há em mim.
Assim deveria ser a oração dos franciscanos.
E depois eu segui no ônibus e o franciscano já não mais existe entre os saltos do meu scarpin negro negríssimo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário